Em plena contagem regressiva para o Natal, os próximos posts do blog vão
explorar um pouco do que se sabe do ponto de vista histórico e de estudo
textual do Novo Testamento, sobre as narrativas que deram origem a uma das
festas religiosas mais importantes do planeta.
Em quase todas as religiões cristãs, a liturgia de Natal está cheia de
momentos tocantes e inspiradores, da estrela de Belém aos “Reis Magos” (que na
verdade não eram reis; taí uma discussão interessante…), dos pastores ao anjo
Gabriel.
O que pouca gente percebe de forma consciente, no entanto, é que o
quadro tradicional do Natal foi construído com base em duas narrativas bem
diferentes, com perspectivas bastante distintas, uma do Evangelho de Mateus, a
outra do Evangelho de Lucas.
Vale a pena dar uma relida nesses textos, nos primeiros capítulos dos
dois evangelistas, antes da festa natalina.
Mas, em resumo, podemos dizer que:
1)Em Mateus, a perspectiva é basicamente a de José, pai adotivo do
menino Jesus segundo a tradição cristã.
É no Evangelho de Mateus (e só no Evangelho de Mateus) que
temos a história de que José pensou em abandonar Maria quando soube que ela
estava grávida, que temos o aparecimento dos Magos e da estrela que os guia,
que Herodes manda matar as crianças de Belém forçando a fuga da Sagrada Família
para o Egito etc.
2)Em Lucas, por outro lado, a perspectiva é a de Maria, com momentos
célebres como a Anunciação (quando o anjo Gabriel anuncia a Maria que ela
ficará grávida), a história da gestação milagrosa de João Batista, considerado
parente de Jesus por Lucas, os anjos e os pastores presentes na gruta de Belém
e, aliás, toda a história da viagem de Nazaré a Belém por causa do
recenseamento romano (Mateus não menciona esse fato).
Em diversos pontos, as narrativas parecem até se contradizer (Mateus,
por exemplo, dá a entender que José e Maria moravam em Belém mesmo; as genealogias
de Jesus são muito diferentes, como veremos etc.).
Muito mais do que simplesmente apontar essas contradições, no entanto,
meu objetivo nos próximos posts é mostrar como os antigos autores cristãos
usaram suas narrativas, dentro de sua mentalidade e do contexto do século 1º
d.C., de modo que o nascimento de Jesus fosse retratado como um microcosmo de
sua vida e sua missão.
Até a próxima postagem!
22/12/13 - POR RLOPES
Aviso aos navegantes:
Este é o segundo post de nossa série sobre aspectos
históricos das narrativas bíblicas sobre o Natal.
Muita gente costuma passar batido pelas enormes
genealogias que costumam aparecer nos textos bíblicos. Mas, para quem tem olhos
para ver, elas são uma fonte riquíssima de informação, seja sob o ponto de
vista histórico, seja sob o prisma teológico.
No mundo
antigo (como, de resto, até o começo do século passado, na verdade), comprovar
a descendência a partir de algum ancestral famoso era um elemento importante de
auto-afirmação social e até política. E o mesmo vale para as listas de dezenas
de ancestrais de Jesus que aparecem no Evangelho de Mateus e no Evangelho de
Lucas.
Começando com o mais óbvio, Mateus e Lucas enxergam
os ancestrais de Cristo de maneiras bem diferentes. (Para quem tem interesse em
acompanhar a discussão mais detalhadamente, vale a pena abrir sua Bíblia em
Mateus, capítulo, versículos de 1 a 16, e em Lucas, capítulo 3, versículos de
23 a 38).
O Evangelho
de Mateus, o primeiro do Novo Testamento, inspira-se diretamente nas
genealogias do Gênesis, o primeiro livro do Antigo Testamento,
certamente porque tem o ponto de vista mais judaico de todos os evangelistas.
Não é à toa que, logo de cara, Jesus recebe o título de “filho de Davi” (o
maior rei da história de Israel) e “filho de Abraão” (o primeiro patriarca do
povo israelita). A genealogia é o que nós esperaríamos hoje: começa-se com o
ancestral mais antigo, Abraão, e chega-se ao descendente mais recente, Jesus.
Já Lucas, muito
provavelmente escrevendo para um público não judeu, e talvez não sendo também
de origem judaica, adota o que poderíamos chamar de uma perspectiva mais
universalista. De um jeito mais esquisito para o nosso ponto de vista, começa
com o próprio Jesus e vai recuando no tempo — mas, desta vez, em vez de parar
em Abraão, chega até o próprio Adão, o “pai” de toda a raça humana, e ressalta
ainda que Adão era “filho de Deus”, deixando claro que o interesse de Lucas é
pregar Jesus como Salvador não só para os judeus, mas para toda a humanidade.
Não que essa
preocupação estivesse totalmente ausente dos pensamentos de Mateus, no entanto.
O primeiro evangelista é o único, em sua lista genealógica, a citar mulheres, e
não só homens — e, curiosamente, com exceção de Maria, são todas mulheres não
israelitas, originalmente “pagãs”: Tamar, Raab e Rute. Talvez seja uma pista de
como os não judeus também seriam incorporados à “família” do Messias.
NOMES
QUE NÃO BATEM
Até aí, tudo OK. Cada
evangelista tinha sua própria técnica literária e seu público-alvo. A coisa
começa a se complicar, no entanto — ao menos do ponto de vista de quem acha que
cada vírgula do texto bíblico é a verdade literal incontestável — quando
se olha com atenção o “miolo” das genealogias. Eles simplesmente não batem, e
as diferenças estão longe de serem triviais.
Mateus, por exemplo, organiza sua
genealogia em três grandes períodos de 14 gerações.
O período do meio, o da monarquia
israelita, mostra como ancestrais de Jesus todos os reis de Israel (e, depois,
do reino de Judá), de Davi até a destruição de Jerusalém pelos babilônios em
586 a.C.
Na fase seguinte, chegamos a José e Jesus —
só que há um problema aritmético sério: a conta dá 13 gerações, não 14,
como Mateus explicitamente afirma. Ou algum escriba que copiou o evangelho
“pulou” um ancestral, que desde então ficou perdido, ou Mateus simplesmente
errou a conta. Mas o rolo é ainda mais complexo.
Ocorre que, de Davi em
diante — um período de cerca de mil anos, veja bem — só três nomes de
ancestrais de Jesus batem entre Mateus e Lucas: Salatiel, Zorobabel (na época
do exílio dos judeus na Babilônia) e o próprio José.
Segundo o primeiro evangelista, Jesus seria
descendente direto do rei Salomão, filho de Davi, enquanto Lucas diz que ele
descendia de Natã, um dos filhos menos conhecidos do rei Davi.
O que é mais desconcertante ainda, enquanto
Mateus conta apenas 14 gerações (oops, 13) do exílio da Babilônia até Jesus,
Lucas conta… 22 gerações. Conciliar as duas listas como factualmente corretas
com matemática não dá (talvez com matemágica…).
“Ah, mas a genealogia
de Lucas é a de Maria e a de Mateus é a de José, fácil”, diriam alguns. Essa é
a solução que algumas tradições religiosas adotaram, mas o problema —
insuperável, a meu ver — é que Lucas diz explicitamente que aquela lista de
ancestrais é a de José, não de Maria.
Ademais, o próprio
Lucas diz que Isabel, mãe de João Batista e “parenta” de Maria, era descendente
do sacerdote Aarão, e não do rei Davi. O que, salvo engano, indica que Maria
era da linhagem sacerdotal israelita, não da linhagem real judaica — ao menos
segundo o evangelista.
Como, então, explicar
as diferentes genealogias?
Cada evangelista pode
ter tido acesso a documentos diferentes listando os descendentes de Davi para
montar seu “álbum de família” de Jesus. É o tipo de coisa que acaba ficando
bagunçada depois de um milênio.
FILHO DE
DAVI?
Uma última nota sobre
questões genealógicas envolvendo o Nazareno: faz algum sentido histórico se
perguntar se ele descendia mesmo do jovem rei que matou Golias?
Do ponto de vista
estritamente secular, deixando a fé entre parênteses, a resposta curta é: não
dá para saber. Sem DNA dos dois (Davi e Jesus), nunca saberemos.
Mas o que podemos nos perguntar é se os
contemporâneos de Jesus acreditavam nisso, e nesse caso é provável
que a resposta seja afirmativa.
Os mais antigos
documentos cristãos, as cartas do apóstolo Paulo, escritas nos anos 50 do
século 1º d.C. (uns 20 anos depois da morte do Nazareno, portanto), já
mencionam a tradição da ascendência davídica.
Em sua Carta aos Romanos, Paulo diz logo na
abertura da epístola que Jesus tinha “nascido da semente de Davi, segundo a
carne”.
A afirmação parece
estar inserida numa espécie de profissão de fé cristã muito antiga, que o
próprio Paulo não formulou, mas apenas estaria citando. Parece, portanto, que a
crença na pertença de Cristo à família de Davi era comum entre os primeiros
cristãos.
Uma consideração
probabilística cabe aí também, claro: se os reis israelitas tinham 5% da vasta
quantidade de esposas e concubinas atribuídas a eles nos textos do Antigo
Testamento, depois de um milênio, torna-se virtualmente certo que Jesus descendia
de Davi — ele e boa parte da população judaica de seu tempo, claro.
parte 3:
quando Jesus nasceu?
23/12/13 - POR RLOPES
Aviso aos
navegantes: este é o segundo post de nossa série sobre aspectos históricos
das narrativas bíblicas sobre o Natal
Nosso tema de hoje
parece absurdamente simples, mas na verdade é um vespeiro. Afinal, se estamos
em 2013, Jesus nasceu há 2013 anos, certo? Errado, a começar pelo fato de que
ninguém conhecia o zero no Mediterrâneo da Antiguidade, então começamos a
contar os anos diretamente no ano 1, em vez de esperar que todos os 12 meses do
“ano zero” transcorressem.
Além disso, como muita
gente talvez saiba, já é consensual entre os historiadores que a própria
fixação da data do nascimento de Jesus como o início do nosso calendário, feita
originalmente pelo monge Dionísio, o Pequeno (470-544), infelizmente contém um
erro de cálculo.
Dionísio, nascido em
algum lugar entre as atuais Romênia e Bulgária, fixou a data do nascimento de
Cristo no ano 753 AUC (sigla da expressão latina “ab urbe condita”, ou seja,
“depois da fundação da cidade” — a cidade em questão sendo Roma).
Ocorre que, se essa
data fosse a correta, Jesus teria vindo ao mundo depois da morte do rei
Herodes, o Grande (o qual partiu desta para uma melhor — ou pior, levando em
conta as malvadezas que praticou — no ano 4 a.C.).
E, se há uma coisa a respeito da qual todas as
fontes antigas concordam, é que Jesus nasceu quando Herodes ainda era rei.
No mínimo, portanto, no ano 4 a.C., ou antes.
Mas quando exatamente,
afinal?
O Evangelho de Mateus é vago — diz apenas que
foi “no tempo do rei Herodes”.
Já Lucas parece ser
muito mais detalhado e promissor para chegarmos a uma resposta histórica.
Afinal ele associa a
ida de Maria a José de Nazaré a Belém para cumprir as determinações de um censo
decretado pelo imperador Augusto para todos os moradores do Império Romano.
Esse censo teria sido decretado quando Quirino era o governador da Síria e, de
novo, quando Herodes reinava na Judeia.
Além disso, Lucas
também diz que Jesus tinha “cerca de 30 anos” no décimo-quinto ano do reinado
do imperador Tibério, ou seja, em torno dos anos 28-29 d.C. do nosso
calendário.
Agora ficou fácil,
hein?
Só que não. O
problema, de novo, é que as informações não batem.
Começando do começo:
não há indícios, fora do Novo Testamento, de que Augusto tenha de fato ordenado
um recenseamento geral de todos os habitantes de seu império em qualquer
momento – nem que, aliás, esse tipo de censo de todos os domínios romanos tenha
jamais acontecido.
É verdade que Augusto pediu
certa feita, que os governadores das províncias fizessem uma lista de todos
os cidadãos romanos de suas jurisdições, mas isso é algo bem
diferente, porque os cidadãos romanos eram uma proporção minúscula de gente
privilegiada e da classe alta no século 1 d.C. – carpinteiros de Nazaré
certamente não se encaixavam nessa categoria.
E, para piorar a coisa
do ponto de vista cronológico, essa ordem de Augusto só foi dada no ano 6 – dez
anos depois da morte de Herodes, portanto.
E tem mais
esquisitices cronológicas nessa história.
O consenso entre
historiadores é que Quirino só se tornou governador romano da
Síria depois da morte de Herodes — de novo, no famigerado ano 6 d.C.,
permanecendo no cargo até o ano 12.
Pode até ser que ele
tenha tido uma primeira passagem pelo governo da Síria, mas ainda assim no ano
3 a.C. – o rei vilão dos judeus já tinha morrido, de qualquer modo.
SÓCIO
DOS ROMANOS
Outros detalhes
importantes não são propriamente cronológicos, mas de plausibilidade histórica
mesmo. Herodes era o que os romanos chamavam de rex socius, um soberano
aliado, e as populações sob o mando desse tipo de rei títere dos romanos não
costumavam ser recenseadas porque o propósito desse tipo de censo era cobrar
impostos, coisa que Roma não fazia diretamente nesses casos.
Outro ponto esquisito
é a ideia de que José, um descendente de Davi, teria de ir se registrar em
Belém, cidade de seus ancestrais remotos (Davi nasceu em Belém cerca de mil
anos antes de Jesus, é bom lembrar).
A prática romana era exigir que apenas o chefe
de família se registrasse num centro administrativo próximo, para facilitar as
coisas – José, portanto, deveria ir até a cidade galileia de Séforis, não a
Belém.
É por tudo isso que a
verdadeira “data de nascimento” do Nazareno infelizmente continua sendo vaga.
Os detalhes usados por
Lucas provavelmente são criações literárias usadas para situar Jesus no
contexto do Império Romano e, talvez, de retratá-lo em contraposição aos
imperadores romanos — tema que vamos explorar melhor no próximo post.
parte
4:
A política da manjedoura
24/12/13 - POR RLOPES
Aviso aos navegantes: este é o quarto e último post de nossa série
sobre aspectos históricos das narrativas bíblicas sobre o Natal
Como tenho tentado explicar nos últimos
dias, é importante pensar nos chamados Evangelhos da Infância, os textos sobre
o nascimento e os primeiros anos da vida de Jesus escritos pelos evangelistas
Mateus e Lucas, como algo mais do que um simples relato factual do que
aconteceu em Nazaré, Belém e Jerusalém no “ano 1″ — até porque, do ponto de vista factual, esses
textos estão longe de contar a mesma história.
Levando em conta a mentalidade e o contexto
cultural da época, é mais lógico e produtivo pensar no que os evangelistas
estão tentando dizer quando montam suas narrativas de
determinada maneira.
Os Evangelhos da Infância, em outras palavras, mais
do que uma transcrição dos vídeos que José e Maria fizeram da gravidez e do
nascimento do menino (vídeos inexistentes, claro), são introduções ao que os
evangelistas querem dizer com a história geral de Jesus.
É o primeiro esboço da resposta às perguntas: quem
é Jesus? E o que a vinda dele ao mundo significa? É desse ponto de vista que
não é nem de longe inexato dizer que essas narrativas também têm forte conteúdo
político.
É assim que muitos historiadores têm lido os
Evangelhos da Infância, em especial os primeiros capítulos do Evangelho de
Lucas. Um bom detalhamento dessa posição está no livro “O Primeiro Natal”, de
Marcus Borg e John Dominic Crossan. Eles e outros pesquisadores enxergam uma
série de paralelos intrigantes entre o relato de Lucas e a chamada teologia
imperial romana — essa, basicamente, é o sistema ideológico usado por Roma para
justificar sua dominação de boa parte do mundo antigo.
AUGUSTA PROPAGANDA
Sabemos que, nas décadas imediatamente anteriores
ao nascimento de Jesus, vários anos de guerra civil entre os principais
políticos romanos chegaram ao fim com a ascensão ao poder de Augusto, o
primeiro imperador, que reinou de 27 a.C. a 14 d.C. Augusto não perdeu tempo do
ponto de vista ideológico, fortalecendo a ideia de que seu pai adotivo e
tio-avô, Júlio César, teria se tornado um deus (tornando-se, por tabela, filho
de um deus, claro) e dando impulso a um culto de si próprio com honras divinas.
Textos espalhados por boa parte das províncias
romanas, em especial na Ásia Menor (atual Turquia), passaram a louvar Augusto
como o governante de origem divina que trouxe paz ao mundo. Logo surgiram
histórias de que Augusto não era filho de um ser humano, mas do próprio deus
Apolo, que teria fecundado a mãe dela na forma de uma serpente.
E adivinhe o
verbo grego usado pela propaganda oficial do império para exaltar os feitos de
Augusto? O mesmo verbo que deu origem ao nosso “evangelizar” — ou seja, a “boa
nova” de Augusto e de seus sucessores, todos os quais seguiram o exemplo de se
autodivinizar.
É claro que boa parte disso era conversa pra boi
dormir. Sim, de fato, o domínio com mãos de ferro de Augusto acabou com as
guerras civis que mobilizaram o Mediterrâneo, mas a “pax romana” do novo
imperador foi forjada para beneficiar apenas as elites do Império. Com a centralização
política cada vez maior e a ânsia imperial por monumentos cada vez mais
magníficos, quem pagava a conta dessa paz eram as grandes massas de camponeses
do Império, obviamente sem os privilégios da cidadania romana — sem falar, é
claro, dos inúmeros escravos.
E, é claro, na terra de Israel, a população judaica
tinha perdido sua independência política, sendo governado por Herodes, um rei
fantoche dos romanos, sanguinário e viciado em obras faraônicas. Ainda não
havia a pressão para que os judeus se juntassem ao culto pagão do imperador.
Mas, nas gerações seguintes ao nascimento de Jesus, com a revolta judaica
contra Roma (no ano 66 d.C.) e a entrada cada vez maior de gentios (não judeus)
no movimento religioso iniciado por ele, esse tipo de pressão em favor da
idolatria ao imperador logo surgiria, fazendo mártires.
É nesse contexto que as escolhas narrativas e de
linguagem que Lucas e Mateus fazem precisam ser entendidas. É muito plausível
que seu significado seja o de uma forma de resistência pacífica, mas
determinada, ao “projeto de mundo” da “Pax Romana”, propondo um projeto
alternativo: o de Jesus. Nas palavras de Borg e Crossan:
“As histórias do primeiro Natal são, em geral,
anti-imperiais. Em nosso contexto, isso significa afirmar, seguindo as histórias
da natividade, que Jesus é o Filho de Deus (e o imperador não é), que Jesus é o
Salvador do mundo (e o imperador não é), que Jesus é o Senhor (e o imperador
não é), que Jesus é o caminho para a paz (e o imperador não é)”.
De fato, são esses os termos usados em grego pela
teologia imperial romana para falar de Augusto: filho de Deus, Senhor, Salvador
do mundo, portador da boa nova (“evangelho”). Só que essas palavras, em Lucas,
são colocadas na boca dos humildes e dos oprimidos: a jovem Maria, sua parenta
Isabel (desprezada por ter chegado aparentemente estéril à velhice antes de
engravidar e ser mãe de João Batista), os pastores de Belém.
Para terminar, e deixando de lado a objetividade
jornalística para falar como cristão: é essa visão, revolucionária no bom
sentido, que está no centro da saga de Jesus e do Deus que ele pregou, e é
graças a ela que o Natal continua sendo um símbolo tão poderoso do que é
divino.
Que todos,
portanto, tenham um Natal maravilhoso. Até breve!
Um blog sobre teoria da evolução, ciência, religião e a terra de ninguém
entre ELAS.
Autor: Reinaldo José Lopes, jornalista de ciência